Conheça o Unitron Mac 512

O primeiro clone do Macintosh no mundo não foi um dos sistemas sancionados pela Apple lançados em 1995, como os de empresas como PowerComputing, Radius, Umax ou Daystar Digital. Nem foi o laptop Outbound em 1989, um sistema híbrido produzido usando Mac ROMs retirados de sistemas Mac Plus funcionais.

Não, o primeiro clone do Macintosh foi o Unitron Mac 512, uma cópia não autorizada do “Fat Mac” 512k produzido por uma empresa brasileira em 1986. E era uma cópia bastante impressionante. As consequências desse esforço quase ajudaram a iniciar uma guerra comercial entre o Brasil e os Estados Unidos; Para evitar o roubo de propriedade intelectual, a Apple e outras empresas fizeram lobby no Congresso para aumentar os impostos de importação sobre produtos brasileiros como laranjas e sapatos como uma resposta.

E como sabemos, ninguém mexe com o Tropicana…

Não é uma história amplamente conhecida. Pedaços desse capítulo há muito esquecido na história do Mac podem ser encontrados espalhados em sites de todo o mundo. Aqui está a fascinante história do primeiro clone do Macintosh no mundo.

A situação de fundo

Durante a década de 1980, o Brasil estava sob regime militar e tinha um política de mercado reservada para vendas de computadores: apenas máquinas produzidas localmente por empresas brasileiras podiam ser vendidas no Brasil. A importação de minicomputadores e microcomputadores era ilegal, pois eram considerados riscos de segurança em potencial. Como consequência, o país desenvolveu um mercado local de clones dos computadores populares da época: PCs MS-DOS, TRS-80, Apple II e Timex Sinclair.

Esses clones eram normalmente produzidos sem a permissão dos proprietários das marcas (uma situação que não é exclusiva do Brasil). A Unitron já estava produzindo um clone do Apple II. Como era ilegal importar o Macintosh e seu design proprietário, a Unitron percebeu uma oportunidade de mercado e decidiu criar um clone do "Fat Mac" de 512k da Apple.

O plano inicial era negociar um acordo de licenciamento com a Apple, mas a Mothership em Cupertino se recusou a fazer isso sem possuir pelo menos 51% do empreendimento. Esse tipo de arranjo era proibido pela lei brasileira, então, em vez disso - com a ajuda do governo - a Unitron decidiu seguir em frente sem a aprovação da Apple. Seu clone do Apple II já estava sendo vendido sem qualquer objeção da Apple, então essa parecia uma opção realista de prosseguir.

No final das contas, a Apple não foi tão tolerante com seu segundo filho.

Unitron 512 Manual
Unitron Mac 512 com o manual do proprietário (foto: Chester’s Blog)

Clonando o Macintosh

O objetivo da Unitron era clonar o Macintosh 512k. Muitos dos componentes estavam disponíveis comercialmente, como o microprocessador Motorola 68000, chips de RAM, eletrônicos analógicos, etc., mas por causa das leis de importação restritivas do Brasil, obtê-los pode ser difícil. O Mac também continha vários chips Apple de design personalizado: o controlador de disquete “Integrated Woz Machine”, um chip de relógio em tempo real e 4 Programmable Logic Arrays (PLAs). Tudo isso precisava ser replicado.

No lado do software, a Unitron precisava fazer a engenharia reversa da ROM do Macintosh, que continha a caixa de ferramentas do Mac rotinas, e localizar o Sistema Operacional para o mercado brasileiro e sua população de língua portuguesa.

As máquinas foram suspensas sobre um pequeno lago artificial para manter o público à distância.

Como muitas empresas, a Unitron empreendeu esforços para angariar publicidade para seu produto enquanto ele ainda estava em desenvolvimento (por exemplo., vaporware). O programador brasileiro Jecel Mattos de Assumpcao Jr., criador do projeto Merlin, descreveu sua primeira demonstração pública na Feira Nacional de Computadores de 1985:

“As máquinas foram suspensas sobre um pequeno lago artificial para manter o público à distância. Uma máquina estava executando algum software de demonstração enquanto a outra estava desligada e parcialmente aberta... Eu imaginei que a máquina aberta, que tinha um placa que era obviamente diferente da da Apple, não estava funcionando ainda, enquanto o computador de trabalho provavelmente era um Mac original e não um clone em tudo."

de Assumpção Jr. observou que truques de marketing como esses eram uma forma popular de as empresas testarem a reação do público a produtos futuros.

Unitron e Mac 512k front
Unitron Mac 512 (esquerda; foto: Chester’s Blog) vs. Apple Macintosh 512k (foto: com fio)

A Unitron conseguiu um empréstimo de US $ 10 milhões do governo brasileiro. Com a ajuda de vários laboratórios universitários locais, bem como do fabricante de chips National Semiconductor, o grupo meticulosamente fez a engenharia reversa da ROM do Macintosh e criou seus próprios chips personalizados. O código foi escrito em uma mistura de linguagem assembly C e 68k, com base nas especificações dos livros Inside Macintosh.

Rainer Brockerhoff, um programador da equipe Unitron, discutiu o esforço:

“Eu era um consultor para aquela equipe e eventualmente fiz a maioria dos gerentes de caixa de ferramentas... tudo estava codificado em C, exceto por alguns drivers de dispositivo críticos e o emulador QuickDraw que foram feitos em Assembly língua."

A Unitron enfrentou obstáculos em todas as curvas. Depois de obter o empréstimo, o governo se recusou a permitir que importassem unidades de disquete de 3,5 polegadas e, em vez disso, queria que adotassem mecanismos de 5,25 polegadas feitos localmente. A Unitron acabou usando mecanismos de 3,5 ″ (que se parecem com os de clones genéricos de PC), mas teve que construir sua própria fábrica de unidades de disquete para fazer isso.

InternalUnitronand Apple 512k
Interior do Unitron Mac 512 (à esquerda; foto: Tabajara Labs) vs. Interior do Macintosh 512k

Um ano depois, na Feira Nacional de Computação do Brasil de 1986, a Unitron exibiu meia dúzia de demonstrações de trabalho de seus Mac 512. Era realmente um clone do Macintosh, até o formato da caixa e a cor bege. Cosmeticamente, havia apenas algumas pequenas diferenças:

• alguns dos teclados vieram com teclas pretas em vez de bege
• a unidade de disquete era do tipo PC e vinha em uma versão de unidade dupla
• o sistema utilizou três baterias AA de 1,5 V em vez de uma bateria de 4,5 V

A Unitron também traduziu o software do sistema operacional para o português, e a máquina foi lançada ao público ainda naquele ano.

Unitron traseiro e Apple 512k
Painel traseiro do Unitron Mac 512 (à esquerda; foto: Tabajara Labs) vs. Painel traseiro do Macintosh 512k

Incorrendo a Ira da Apple

Não é novidade que a curiosidade da Apple foi despertada, e eles obtiveram algumas máquinas. Após a desmontagem, a Apple rapidamente contestou o fato de que a ROM tinha sofrido engenharia reversa. Em vez disso, alegaram que apenas alguns bytes foram alterados para alterar a soma de verificação, mas que a maior parte da ROM foi copiada.

A Unitron contestou essa afirmação. Alguns na empresa pensaram que talvez as máquinas que a Apple obteve para análise fossem na verdade protótipos equipados com cópias de ROMs da Apple para teste de compatibilidade, em vez de modelos de produção. Seja qual for a situação, a Apple não ficou feliz com o que viu. Para eles, copiar a ROM era roubo de propriedade intelectual, e eles estavam dispostos a tomar medidas para evitar isso.

Placa-mãe Unitron 512
Placa-mãe Unitron Mac 512 (esquerda; foto: Tabajara Labs) vs. Placa-mãe Mac 512k

Esse tipo de prática não era um problema específico da Apple Computer. Em 1987, eles se juntaram a várias outras empresas de tecnologia, incluindo IBM e Microsoft, para fazer lobby junto ao Congresso dos EUA para aprovar uma resolução imposição de sanções comerciais aos produtos brasileiros se o governo continuar com as práticas atuais. Os produtos lucrativos das principais indústrias, como calçados, têxteis, suco de laranja e aço, seriam os alvos.

Essas exportações eram muito importantes para o país e tais medidas teriam um impacto generalizado na economia brasileira. de Assumpção Jr. escreveu sobre como a Apple bombardeou a imprensa brasileira com artigos descrevendo como “piratas nojentos” arruinariam toda a economia apenas para ganhar dinheiro rápido:

“Alguns artigos afirmam que eles usaram um laboratório administrado pelo governo (CTI em Campinas) para abrir os chips da Apple olhá-los ao microscópio para copiá-los - "o dinheiro dos seus impostos está sendo usado para ajudar a comprometer um crime!".

O governo brasileiro estava em uma situação conflitante. Brockerhoff observou como, naquela época, uma licença especial era necessária para fabricar computadores no Brasil:

“A Unitron parece ser o único caso em que dois laudos contraditórios foram protocolados pelos avaliadores oficiais: um laudo técnico que elogiou o projeto como um excelente exemplo de engenharia reversa e engenhosidade técnica e um relatório político que denunciou o projeto como um desprezível roubo de comércio segredos. ”

Em última análise, o impacto econômico potencial para o Brasil decidiu a discussão. O governo tomou medidas para manter os direitos autorais do software e pressionou a Unitron a cancelar o projeto do Mac 512 depois que mais de 500 máquinas foram produzidas. A empresa sofreu um sério golpe financeiro e reduziu seu tamanho para se concentrar em equipamentos eletrônicos industriais, bem como no mercado cada vez menor de clones do Apple II.

Os designs do Mac 512 foram posteriormente vendidos para uma empresa taiwanesa - e os advogados da Apple também encerraram esses esforços. A história do primeiro clone do Macintosh havia chegado ao fim.

Unitron Mac 512

PostScript

Muitas pessoas sentiram que a decisão da Apple de não licenciar o Mac System Software na década de 1980 e início dos anos 90 foi um erro. A extremidade forçada do Unitron Mac 512 deixou o mercado brasileiro aberto para clones de PC, que não tinham as mesmas restrições de fabricação. Em 1992, quando a lei foi finalmente alterada e a Apple teve permissão para vender no Brasil, praticamente ninguém estava familiarizado com o Macintosh.

Por um curto período, começando em 1994, a Apple finalmente decidiu licenciar o Mac OS para fabricantes de clones terceirizados. Esses sistemas foram baseados em placas-mãe fornecidas pela Apple, e alguns dos clones tiveram um desempenho melhor do que as próprias ofertas da Apple. A PowerComputing foi a mais bem-sucedida de todas, que também incluiu Motorola, Radius e Umax. Mas, em vez de expandir o mercado geral de Mac, os clones começaram a tirar as vendas do sistema das próprias ofertas de ponta da Apple.

Steve Jobs matou os clones quando voltou à empresa em 1997, comprando imediatamente a PowerComputing para impedir a canibalização das vendas. A Apple não licenciou o Mac OS nem permitiu que nenhuma empresa fabricasse hardware compatível com a Apple desde então.

Mais Informações:
Merlintec: Unitron Mac 512
Mac low-end: Um contrabando Mac 512K
Old-Computers.com: Unitron (Brasil) Mac 512
Everything2: Unitron Mac512
Blog do Chester: Unitron Mac 512
Laboratórios Tabajara: Mac 512 Unitron
Evolução Tecnológic @: A Lenda é Real

Obrigado: Tiago Relva

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